Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 155 / 382

..».

Quando chegaram defronte da casa do ferrador, em vez de seguir pelo caminho até à cancela, Rodolphe tomou bruscamente por um atalho, arrastando consigo a Se Bovary, e exclamou:

- Boa tarde, Sr. Lheureux! Muito obrigado!

- A maneira como o despediu! -•disse ela, rindo-se.

- Porque é que nos havemos de deixar invadir pelos outros? - continuou ele. - E, uma vez que tenho hoje a felicidade de estar consigo...

Emma corou. Ele não terminou a frase. Falou então do bom tempo e do prazer de caminhar sobre a erva. Algumas margaridas haviam voltado a florir.

- Veja que lindos malmequeres! - disse ele. - Suficientes para fornecer oráculos a todas as apaixonadas cá do sítio.

E acrescentou:

- Se eu apanhasse alguns. Que acha?

- Você está apaixonado? - disse ela, tossindo um pouco.

- Ora, quem sabe? - respondeu Rodolphe.

O prado começava a encher-se e as mães de família davam encontrões com os seus guarda-chuvas, os cestos e os pimpolhos. Muitas vezes tinham de se afastar para deixar passar uma longa fila de aldeãs, criadas de meias azuis, sapatos rasos, anéis de prata e cheirando a leite quando se passava perto delas. Caminhavam todas de mãos dadas, ocupando assim toda a extensão do prado, desde a linha dos álamos até à tenda do banquete. Mas era o momento do exame, e os lavradores, uns atrás dos outros, iam entrando numa espécie de hipódromo formado por uma longa corda suportada por estacas.

Os animais ali estavam, com as ventas voltadas para a corda, alinhando confusamente as suas ancas desiguais. Porcos entorpecidos enterravam o focinho no chão; vitelos mugiam; ovelhas falavam; as vacas, com um jarrete dobrado, estendiam o ventre em cima da relva e, ruminando lentamente, piscavam as pesadas pálpebras, evitando os moscardos que zumbiam em torno delas.





Os capítulos deste livro