Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 158 / 382

Vinha tão carregado que se lhe avistava apenas a ponta dos tamancos e a extremidade dos dois braços, bem abertos. Era Lestiboudois, o coveiro, que carregava, por entre a multidão, as cadeiras da igreja. Sempre cheio de imaginação para tudo o que dissesse respeito aos seus interesses, descobrira este meio de tirar partido dos comícios; e a ideia dava resultado, porque já nem sabia a quem havia de atender. Efectivamente, os aldeões, cheios de calor, disputavam aqueles assentos, cuja palha cheirava a incenso, e encostavam-se nos seus grandes espaldares, sujos da cera dos círios, com uma certa veneração.

A Sr." Bovary retomou o braço de Rodolphe; este continuou, como se estivesse falando para si próprio:

- Sim! faltou-me tanta coisa! Sempre só! Ah!, se eu tivesse tido um objectivo na minha vida, se houvesse encontrado uma afeição, se tivesse achado alguém... Oh!, como teria utilizado toda a energia de que sou capaz, como teria suplantado tudo, vencido tudo!

- No entanto, a minha impressão - replicou Emma - é a de que não tem muito de que se queixar.

- Acha isso? - disse Rodolphe,

- Porque, enfim... - prosseguiu ela -, o senhor é livre.

E acrescentou, depois de hesitar:

- Rico.

- Não faça pouco de mim - respondeu Rodolphe.

E, quando ela jurava que não estava a divertir-se à custa dele, ouviu-se um tiro de canhão; no mesmo instante, as pessoas começaram a correr, em confusão, para a vila.

Fora um alerta falso. O prefeito não chegara ainda; e os membros do júri encontravam-se em grande embaraço, sem saber se haviam de começar a cerimônia ou continuar à espera.

Finalmente, ao fundo da praça, apareceu uma grande carruagem de aluguer, tirada por dois cavalos magros, fustigados, ora de um lado ora do outro, por um cocheiro de chapéu branco.





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