Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 159 / 382

Binet só teve tempo de gritar: «Às armas», e o coronel de o imitar. Todos correram para os sarilhos. Na precipitação, alguns até se esqueciam dos colarinhos. Mas a equipagem prefeitoral pareceu adivinhar o embaraço e a parelha das pilecas, bamboleando-se sobre a atrelagem, chegou a trote curto à frente do vestíbulo da Câmara, precisamente no momento em que a guarda nacional e os bombeiros ali formavam, rufando os tambores e marcando passo.

- Levantem bem os braços e os joelhos! - gritou Binet.

- Alto! - gritou o coronel. - Pela esquerda, perfilar!

E, depois de um manejo de espingardas, em que o retinir das braçadeiras, chocalhando, soou como se uma panela de cobre caísse por uma escada aos trambolhões, todas as armas voltaram a descansar.

Viu-se então descer da carruagem um senhor vestido de casaca curta, com bordados de prata, calvo na frente, com um estranho topete na nuca, de rosto macilento e um ar bonacheirão. Os olhos, bastante salientes e cobertos por umas pálpebras espessas, semicerravam-se para observar a multidão, ao mesmo tempo que levantava o nariz arrebitado e sorria com a boca recolhida. Reconheceu o administrador pela faixa e expôs-lhe que o Sr. Prefeito não pudera vir. Ele era um conselheiro da prefeitura; depois acrescentou algumas desculpas. Tuvache respondeu-lhe com muitas demonstrações de cortesia e o outro confessou-se confundido; e assim ficaram, frente a frente, quase testa com testa, com os membros do júri todos em roda, o conselho municipal, as pessoas mais importantes, a guarda nacional e o povo. O conselheiro, encostando ao peito o seu pequeno tricórnio preto, reiterava os cumprimentos, enquanto Tuvache, curvado em arco, sorria também, gaguejava, procurava as frases, reafirmava a sua devoção à monarquia e assinalava a honra que era feita a Yonville.





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