Madame Bovary - Cap. 16: VIII Pág. 168 / 382

Estabeleceu a relação entre uma e outra, mostrando como ambas haviam sempre concorrido para a civilização. Rodolphe e a Sr! Bovary conversavam sobre sonhos, pressentimentos, magnetismo. Remontando ao berço das sociedades, descrevia o orador esses tempos selvagens em que os homens se alimentavam de bolotas, no interior dos bosques. Depois deixaram as peles dos animais, vestiram-se de pano, abriram sulcos na terra, plantaram vinhas. Teria sido isto um bem e não haveria nesta descoberta mais inconvenientes do que vantagens? Derozerays punha o problema à consideração. Do magnetismo passara Rodolphe, a pouco e pouco, para as afinidades e, enquanto o Sr. Presidente citava Cincinato lavrando com o seu arado, Diocleciano plantando as suas couves e os imperadores da China inaugurando o ano com sementeiras, o rapaz explicava a Emma que aquelas irresistíveis atracções tinham origem nalguma existência anterior.

- Por exemplo, nós - dizia ele -, por que razão nos conhecemos?

Que acaso o permitiu? Foi, sem dúvida nenhuma, porque, através da separação, como dois rios que correm para se encontrar, os nossos declives particulares nos haviam impelido um para o outro.

E agarrou-lhe na mão; ela não a retirou.

«Conjunto de boas culturas!», gritou o presidente. - Há pouco, por exemplo, quando fui a sua casa... «Ao Sr. Bizet, de Quincampoix.»

- Sabia eu, porventura, que a acompanharia? «Setenta francos!»

- Uma centena de vezes quis mesmo vir-me embora, e afinal segui-a, deixei-me ficar.

«Estrumes.»

- Assim como ficaria esta noite, amanhã, nos outros dias, toda a minha vida!

«Ao Sr. Caron, de Argueil, medalha de ouro!»

- Porque nunca encontrei na companhia de ninguém um encanto tão completo.

«Ao Sr. Bain, de Givry-Saint-Martin!»

- Por isso a levarei na lembrança.





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