Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 178 / 382

Pôs-se a fazer recomendações ao Sr. Boulanger

- Uma desgraça acontece num instante! Tome cuidado! Os cavalos são talvez fogosos!

Emma ouviu um rumor por cima da cabeça era Félicité que tamborilava na vidraça para entreter a pequenina Berthe. A criança atirou-lhe de longe um beijo; a mãe respondeu-lhe com o castão do pequeno chicote. - Bom passeio! - gritou o Sr. Homais. - Sobretudo prudência!

E agitou o jornal que tinha na mão, vendo-os afastar-se.

Logo que sentiu chão de terra o cavalo de Emma tomou o galope. Rodolphe galopava ao lado dela. De quando em quando trocavam uma palavra. Com o rosto um pouco inclinado, a mão levantada e o braço direito caído, Emma abandonava-se à cadência do movimento que a embalava sobre a sela.

Na base da encosta, Rodolphe soltou as rédeas; partiram juntos, arrancando bruscamente; depois no alto, de súbito, os cavalos estacaram e o grande véu azul voltou a descer.

Estava-se nos primeiros dias de Outubro. Havia berração nos campos.

O nevoeiro estendia-se pelo horizonte, entre os contornos das colinas; alguns farrapos destacavam-se, subiam e desapareciam. As vezes, numa abertura das nuvens, sob um raio de sol, avistavam-se ao longe os telhados de Yonville, com os quintais à beira do rio, os pátios, o muro e os campanários da igreja. Emma semicerrava as pálpebras, procurando identificar a sua casa, e nunca aquela mísera aldeia onde vivia lhe parecera tão pequena. Da altura onde se encontravam, todo o vale se assemelhava a um imenso lago desmaiado, evaporando-se no ar. Os amontoados de árvores, aqui e além, tinham o aspecto de rochedos escuros; e os altos topos dos álamos, ultrapassando a bruma, faziam lembrar areais remexidos pelo vento.

Ali ao lado, sobre a erva, entre os pinheiros, circulava uma luz mortiça na atmosfera tépida.





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