Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 179 / 382

A terra, arruivada como pó de tabaco, amortecia o ruído dos passos; e, no andamento, os cavalos empurravam, com a ponta das ferraduras, as pinhas caídas no chão.

Rodolphe e Emma seguiram assim a orla do bosque. De vez em quando, ela voltava-se para lhe evitar o olhar, e então apenas via os troncos dos pinheiros alinhados, numa sucessão contínua que a estonteava um pouco. Os cavalos resfolegavam. O couro das selas rangia.

No momento em que entravam na floresta apareceu o sol.

- Deus protege-nos! - disse Rodolphe.

- Acha que sim? - respondeu ela.

- Avancemos! Avancemos! - retorquiu ele.

Deu um estalido com a língua. Os dois animais deitaram a correr. Os grandes fetos da beira do caminho prendiam-se ao estribo de Emma.

Rodolphe, mesmo sem parar, inclinava-se e ia-os soltando. Outras vezes, para afastar os ramos, passava junto dela e Emma sentia-lhe o joelho roçar pela perna. O céu ficara azul. As folhas nem mexiam. Havia grandes espaços cobertos de urzes todas floridas; e as extensões de violetas alternavam com os maciços de árvores, que eram pardos, ruivos ou dourados, segundo a diversidade das folhagens. Muitas vezes ouvia-se passar, debaixo dos arbustos, um leve bater de asas, ou então o grito rouco e suave dos corvos, que voavam entre os carvalhos.

Apearam-se. Rodolphe prendeu os cavalos. Ela seguia na frente pisando o musgo, entre os sulcos do caminho.

Mas o vestido, comprido de mais, embaraçava-lhe os movimentos, apesar de o levar erguido pela cauda, e Rodolphe, caminhando atrás dela, contemplava, entre o tecido preto e a botina também preta, a delicadeza da meia branca, que se lhe afigurava como que um pouco da sua nudez.

Emma parou.

- Estou cansada - disse ela.

- Vamos, experimente mais um pouco! - respondeu ele.





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