Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 181 / 382

Mas preciso de si para viver! Necessito dos seus olhos, da sua voz, do seu pensamento. Seja minha amiga, minha irmã, meu anjo!

E, estendendo o braço, enlaçava-lhe a cintura. Ela procurava brandamente soltar-se. Ele segurava-a assim enquanto caminhavam.

Ouviram então os dois cavalos tosando a erva.

- Oh!, um momento - disse Rodolphe. - não nos vamos embora!

Fique!

E levou-a até mais longe, à beira duma lagoa, onde lentilhas aquáticas cobriam a água de verdura. Alguns nenúfares murchos conservavam-se imóveis entre os juncos. Ao ruído que faziam com os passos na relva saltavam rãs para se esconder.

- Faço mal, faço mal - dizia ela. - Não tenho juízo em escutá-lo.

- Porquê? Emma! Emma!

- Oh! Rodolphe!... - disse lentamente a jovem mulher, encostando-se ao ombro dele.

O pano do vestido prendia-se ao veludo da casaca. Ela curvou para trás o alvo pescoço, que se dilatou com um suspiro; e, desfalecida, banhada em lágrimas, com um prolongado estremecimento e escondendo o rosto, entregou-se.

Caíam as sombras do crepúsculo; o sol horizontal, passando entre os ramos, deslumbrava-lhe a vista. Aqui e além, em redor dela, na folhagem ou no chão, tremiam manchas luminosas, como se colibris, voando, tivessem espalhado as suas plumas. O silêncio era completo; uma certa doçura parecia destacar-se das árvores; Emma ouvia o coração, cujo pulsar recomeçava, e sentia o sangue circular-lhe no corpo como uma torrente de leite. Ouviu então muito ao longe, para lá da mata, sobre as outras colinas, um grito vago e prolongado, uma voz que se arrastava e que ela escutava em silêncio, como uma melodia que se misturava com as últimas vibrações dos seus nervos emocionados. Rodolphe, de charuto entre os dentes, consertava, com.





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