Madame Bovary - Cap. 19: XI Pág. 202 / 382

A Sr. Bovary ia vê-lo. Levava-lhe panos para as cataplasmas e consolava-o, animava-o Aliás, não lhe faltava companhia, sobretudo nos dias de mercado, quando em volta dele os aldeãos empurravam as bolas de bilhar, esgrimiam correm os tacos, fumavam, bebiam, cantavam e vociferavam.

- Como estás tu? - perguntavam eles, batendo-lhe no ombro. Eh, lá!, parece que estás desanimado! Mas a culpa é tua. Devias fazer isto fazer aquilo.

E contavam-lhe histórias de indivíduos que se tinham curado com remédios diferentes daqueles; depois, à maneira de consolação, acrescentavam:

- É que ligas demasiada importância a isso! Levanta-te daí! Estás refestelado como um rei! O que é verdade, meu intrujão, é que não estás a cheirar nada bem!

Com efeito, a gangrena ia subindo cada vez mais. O próprio Bovary se sentia doente com aquilo. Vinha vê-lo a todas as horas, de momento a momento. Hippolyte olhava-o com olhos espantados e balbuciava soluçando:

- Quando é que vou ficar bom?.. Ai!, salve-me... Oh, que desgraça a minha! que desgraça a minha!

O médico ia-se embora, voltando a recomendar-lhe a dieta.

- Não lhe dês ouvidos, rapaz - dizia-lhe a Tia Lefrançois. - Não estás farto de ser martirizado? Ainda apanhas alguma fraqueza. Anda, engole!

E apresentava-lhe um bom caldo, um pedaço de carneiro, um bocado de toucinho e, às vezes, um copinho de aguardente, que ele nem tinha coragem de levar à boca.

O Padre Bournisien, sabendo que ele estava a piorar, pediu para o ver. Coeçou por lastimá-lo da sua doença, dizendo, ao mesmo tempo, que se ria regozijar, pois que essa era a vontade de Nosso Senhor, e aproveitar to antes a ocasião para se reconciliar com o Céu.

- Porque - dizia o eclesiástico num tom paternal - tu negligencias-te um pouco os teus deveres; raras vezes aparecias no ofício divino; há quantos anos não te aproximas da mesa da comunhão? Compreendo que tuas ocupações e o turbilhão do mundo tenham podido afastar-te do dado da salvação.





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