Madame Bovary - Cap. 20: XII Pág. 219 / 382

Caminhava-se a passo, por causa das grandes lajes, e havia no chão ramos de flores oferecidos por mulheres em corpete encarnado. Ouviam-se tocar os sinos, relinchar os cavalos, juntamente com o gemido das guitarras e o murmúrio das fontes, dissipando vapor que refrescava pilhas de frutos, dispostos em pirâmide junto de estátuas pálidas que sorriam sob os jactos de água. Depois chegavam, uma noite, a uma aldeia de pescadores, onde redes escuras secavam ao vento, ao longo da falésia e das cabanas. Era lá que ficariam a viver; morariam numa casa baixa, de telhado plano, à sombra duma palmeira, no fundo de um golfo, à beira do mar. Passeariam de gôndola, baloiçar-se-iam na rede suspensa; teriam uma existência fácil e folgada como as suas roupas de seda cálida e cheia de estrelas como as noites suaves que contemplariam. Entretanto, na imensidão daquele futuro que, na sua imaginação, ela fazia aparecer, nada de particular acontecia; os dias, todos magníficos, eram semelhantes como as ondas; e a cena estendia-se até ao horizonte, infinita, harmoniosa, azulada e coberta de sol. Mas a criança punha-se a tossir no seu bercinho, ou então Bovary ressonava com mais força, e Emma só adormecia de manhã, quando a aurora embranquecia as vidraças e já o pequeno Justin, na praça, abria os taipais da farmácia. Mandara chamar o Sr. Lheureux e dissera-lhe:

- Vou precisar de um capote, um capote largo, de gola grande e forrado.

- Vai viajar? - perguntou ele.

- Não!, mas..., não interessa, conto consigo, não é verdade?, e com pressa!

Ele inclinou-se.

- Preciso ainda de um baú... - continuou -, não muito pesado..., cómodo.

- Sim, sim, perfeitamente, de cerca de noventa e dois centímetros por cinquenta, como agora se fazem.

- E um saco de dormir.





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