Madame Bovary - Cap. 21: XIII Pág. 231 / 382

.. Foi uma recaída!

Então Homais quis saber como tinha surgido aquele acidente. Charles respondeu que lhe tinha sobrevindo repentinamente, quando ele estava comendo damascos.

- É extraordinário!... - continuou o farmacêutico. - Mas podem até ter sido os damascos que lhe provocaram a síncope! Há temperamentos extremamente sensíveis em relação a determinados aromas. Seria um bom assunto de investigação, tanto no aspecto patológico como no aspecto fisiológico. Os padres, que sempre utilizaram perfumes nas suas cerimónias, conhecem-lhes a importância. Fazem isso para nos embotar a mente e provocar êxtases, o que é, aliás, fácil de conseguir em pessoas do sexo feminino, que são mais delicadas do que nós. Conhecem-se casos de algumas que desmaiaram com o cheiro de chifre queimado, de pão quente...

- Cuidado, para não a despertar! - disse Bovary em voz baixa.

- E não são apenas os humanos - continuou o boticário -, mas até os animais estão sujeitos a estas anomalias. O doutor naturalmente não desconhece o efeito singularmente afrodisíaco que provoca a Nepeta cataria, vulgarmente chamada erva-de-gato, na espécie felina; por outro lado, para lhe citar um exemplo de que garanto a autenticidade, Bridoux (um dos meus antigos camaradas, actualmente estabelecido na Rue Malpalu) possui um cão que entra em convulsões de cada vez que lhe apresenta uma caixa de rapé. Muitas vezes ele até faz a experiência diante de amigos, na casa que tem no Bosque Guillaume. Poder-se-ia imaginar que um simples esternutatório seria suficiente para causar semelhante devastação no organismo de um quadrúpede? É extremamente curioso, não é verdade?

- Pois é - respondeu Charles, que nem o escutava.

- Isto prova - continuou o outro, sorrindo com ar de benigna suficiência - as inumeráveis irregularidades do sistema nervoso.





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