Madame Bovary - Cap. 22: XIV Pág. 241 / 382

Foi manifestando outras mais, à medida que se ia restabelecendo. Primeiro encontrou processo de despedir a Tia Rolet, a ama, que se habituara, durante a convalescença de Emma, a aparecer com demasiada frequência na cozinha, juntamente com os seus dois petizes e o hóspede, mais esfaimado que um canibal. Depois desembaraçou-se da família Homais, dispensou sucessivamente todas as outras visitas e começou mesmo a frequentar menos assiduamente a igreja, com grande aplauso do boticário, que lhe disse então amigavelmente:

- A senhora estava a ficar um pouco beata de mais!

O Padre Bournisien continuava a aparecer todos os dias, quando terminava a catequese. Preferia ficar fora, respirando ar puro no meio do arvoredo; era assim que ele chamava ao caramanchão. Era à hora a que Charles regressava. Sentiam calor; mandavam fazer sidra doce e bebiam juntos ao completo restabelecimento da senhora.

Binet estava por ali, ou seja, um pouco mais abaixo, junto do muro do terraço, pescando lagostins. Bovary convidava-o para um refresco e ele entendia-se muito bem a abrir as garrafas.

- Reparem - dizia ele, lançando um olhar satisfeito em torno de si até às extremidades da paisagem -, é preciso segurar a garrafa assim a prumo sobre a mesa e, depois de cortar os cordéis, ir aliviando a rolha muito devagar, a pouco e pouco, como se faz também com a água de Seltz, nos restaurantes.

Mas a sidra, durante a demonstração, muitas vezes lhe saltava para o rosto, e então o eclesiástico, com um riso maroto, nunca deixava de dizer este gracejo:

- A sua boa qualidade salta aos olhos!

O padre era realmente um homem simpático, e até nem se escandalizou quando um dia o farmacêutico aconselhou Charles a levar a senhora, para a distrair, ao teatro de Ruão, a ver o ilustre tenor Lagardy.





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