Madame Bovary - Cap. 28: V Pág. 299 / 382

Uma manhã em que acabara de sair, segundo o seu costume, com uma roupa bastante leve, começou repentinamente a nevar; e, como Charles estivesse à janela a observar o tempo, viu o pé Bournisien na carruagem do Sr. Tuvache, que o ia levar a Ruão. Saiu então a confiar ao eclesiástico um grande xaile para que ele o entregasse a Emma quando chegasse à Cruz Vermelha. Logo que chegou à estalagem, Bournisien perguntou onde estava a mulher do médico de Yonville. A estalajadeira respondeu que ela frequentava muito pouco o seu estabelecimento. Por isso à tarde, reconhecendo a Sr, Bovary na Andorinha, o padre contou-lhe da atrapalhação, sem no entanto lhe atribuir muita importância, porque começou a fazer o elogio dum pregador que por essa altura estava fazendo maravilhas na catedral e que todas as senhoras corriam a ouvir.

Apesar de aquele não ter pedido explicações, outros mais tarde poderiam mostrar-se menos discretos. Por isso julgou conveniente apear-se todas as vezes na Cruz Vermelha, de sorte que as boas pessoas da sua terra que a vissem na escada não pudessem desconfiar de nada.

No entanto, um dia, o Sr. Lheureux encontrou-a à saída do Hotel de Bolonha pelo braço de Léon e ela ficou apavorada, imaginando que ele fosse dar à língua. Não era assim tão parvo.

Mas, passados três dias, entrou no quarto dela, fechou a porta e disse:

- Eu precisava de dinheiro.

Ela disse que não lho podia dar. Lheureux desfez-se em lamentações e recordou todas as condescendências que tivera.

Efectivamente, das duas letras assinadas por Charles, Emma, até ao momento, só havia pago uma. Quanto à segunda, o mercador, a seu pedido, havia consentido em a substituir por duas outras, que até tinham sido renovadas por um prazo bastante longo.





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