Madame Bovary - Cap. 28: V Pág. 303 / 382

.. Quando há musselinas a dez soldos e até a oito que fazem o mesmo efeito.

Emma, recostada no sofá, replicava o mais calmamente possível: - Está bem, senhora! Basta, basta!...

A outra continuava o seu sermão, predizendo que iriam acabar os dois no asilo. Aliás, a culpa era de Bovary. Felizmente ele prometeu anular aquela procuração...

- Como?

- Pois! Jurou-me - respondeu a sogra.

Emma abriu a janela, chamou Charles e o pobre homem foi constrangido a confessar a promessa arrancada à força pela mãe.

Emma desapareceu e voltou imediatamente, estendendo-lhe majestosamente uma grande folha de papel.

- Muito obrigada - disse a velha. E atirou para o fogo a procuração.

Emma pôs-se a rir com um riso estridente, explosivo, contínuo: tinha um ataque de nervos.

- Valha-me Deus! - exclamou Charles. - E tu também não devias proceder desse modo! Vieste fazer-lhe cenas!...

A mãe, porém, encolhendo os ombros, achava que tudo aquilo era fingido.

Mas Charles, revoltando-se pela primeira vez, tomou a defesa da mulher, de tal maneira que a viúva decidiu ir-se embora. Partiu logo no dia seguinte e, já à porta, como o filho procurasse retê-la, explicou-lhe:

- Não, não! Gostas mais dela do que de mim, e tens razão, está certo assim. Além disso, deixa lá! Ainda hás-de ver!... Adeus, boa saúde!... O que eu não torno é, como tu dizes, a vir cá fazer cenas.

Nem por isso Charles se sentiu menos envergonhado na presença de Emma, não escondendo esta o rancor com que lhe ficara por ele lhe haver retirado a confiança; foram precisos muitos rogos antes que ela se decidisse a aceitar novamente a procuração e até a acompanhou a casa do Guillaumin para lhe fazer outra igual à primeira.

- Compreendo perfeitamente - disse o notário.





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