Madame Bovary - Cap. 30: VII Pág. 336 / 382

Mas era quase impossível, por causa do torno, ouvir o que ela dizia. Por fim pareceu-lhes distinguir a palavra francos e a tia Tuvache segredou:

- Está-lhe a pedir que lhe consiga um adiamento no pagamento das contribuições.

- É o que parece - retorquiu a outra.

Viram-na andar dum lado para o outro, examinando nas paredes as argolas de guardanapos, os candelabros, as esferas de corrimão, enquanto Binet acariciava a barba todo deleitado.

- Teria ela ido encomendar-lhe alguma coisa? - disse a Sr. Tuvache.

- Mas ele não vende nada! - objectou a vizinha.

O tesoureiro dava a impressão de escutar, arregalando os olhos, como se não estivesse a compreender. Ela prosseguia dum modo terno, suplicante. Aproximou-se dele; o seio arquejava-lhe; tinham parado de falar.

- Está-lhe a fazer alguma proposta? - disse a Tuvache.

Binet ficara rubro até às orelhas. Ela pegou-lhe nas mãos.

- Apre, que é de mais!

E com certeza que ela lhe propunha uma abominação; pois o tesoureiro - que era homem valente e combatera em Bautzen e em Lutzen e fizera a campanha de França, e até fora indigitado para uma condecoração -, de súbito, como que à vista de uma serpente, recuou para bem longe, exclamando:

- Senhora! E pensou nisso?..

- Deviam dar com um chicote nessas mulheres! - disse a Sr. Tuvache.

- E onde se meteu ela? - retorquiu a Srª Caron.

Porque Emma desaparecera durante aquelas palavras; depois, avistando-a a esgueirar-se pela Grande-Rue e a voltar à direita, como que para ir ao cemitério, perderam-se em conjecturas.

- Tia Rolet - disse ela chegando a casa da ama -, sinto-me sufocar!... desaperte-me.

Caiu sobre a cama, a soluçar. A Tia Rolet cobriu-a com uma saia e deixou-se ficar de pé, junto dela.





Os capítulos deste livro