Madame Bovary - Cap. 33: X Pág. 369 / 382

Soprava uma brisa fresca, verdejavam os centeios e as couves-nabiças, tremiam gotinhas de orvalho à beira do caminho, sobre as sebes de espinheiros. Toda a espécie de ruídos alegres enchiam o horizonte: o bater duma carroça rodando ao longe sobre os trilhos, o eco do cantar dum galo ou o galope dum potro que corria a esconder-se debaixo das macieiras. O céu puro tinha ainda algumas manchas cor-de-rosa; sobre as choupanas cobertas de íris pairavam alguns clarões azulados. Charles, ao passar, reconhecia os pátios. Lembrava-se das manhãs, como esta, em que, depois de visitar algum doente, saía dali e voltava para ela.

O pano preto, enfeitado de lágrimas brancas, levantava-se de vez em quando, descobrindo o esquife. Os cangalheiros, cansados, afrouxavam o passo e o caixão avançava aos constantes safanões, como uma chalupa baloiçando a cada vaga.

Chegaram.

Os homens continuaram até mais abaixo, a um lugar relvado onde a cova fora aberta.

As pessoas agruparam-se em volta e, enquanto o padre falava, a terra vermelha, amontoada sobre as bordas, ia correndo pelos cantos, continuamente, sem ruído.

Depois, quando já tinham posto as quatro cordas em posição, arrastaram o caixão para cima delas. Charles viu-a descer. Ia descendo sempre.

Ouviu-se por fim um embate; as cordas, rangendo, foram puxadas para cima. Então Bournisien pegou na pá que Lestiboudois lhe estendia; com a mão esquerda, enquanto aspergia com a direita, empurrou vigorosamente uma grande pazada; e a madeira do caixão, atingida pelas pedras, fez aquele formidável ruído que nos parece ser o retumbar da eternidade.

O eclesiástico passou o hissope ao vizinho. Era o Sr. Homais. Este sacudiu-o com circunspecção. Depois estendeu-o a Charles, que caiu de joelhos no chão e aspergia freneticamente, ao mesmo tempo que gritava: «Adeusl» E atirava-lhe beijos; arrastava-se para a beira da cova para se despenhar juntamente com ela.





Os capítulos deste livro