Madame Bovary - Cap. 8: VIII Pág. 57 / 382

Nunca tinha visto romãs nem comido ananás. Até o açúcar em pó lhe pareceu mais branco e mais fIno do que nos cutros lugares.

As damas, em seguida, subiram aos seus quartos, a fim de se prepararem para o baile.

Emma fez a sua toilette com a meticulosidade de consciência duma arriz em noite de estreia. Arranjou o penteado segundo as recomenda:ões do cabeleireiro e envergou o seu vestido de barege, estendido em cima da cama. As calças de Charles apertavam-lhe a barriga.

- As presilhas vão-me estorvar a dançar - diz ele.

- Dançar? - perguntou Emma.

- Sim!

- Mas perdeste a cabeça! Fariam troça de ti; deixa-te ficar sentado.

- Jiás; é mais próprio de um médico - acrescentou.

Charles calou-se. Passeava de um lado para o outro à espera de que Emma se vestisse.

Via-a por trás, no espelho, entre dois castiçais. Os dois olhos negros pareciam mais negros. Os bandós, levemente arqueados junto às orelhas, tinham reflexos azulados; uma rosa tremia no carrapicho, sobre uma haste móvel, com gotas artificiais nas pontas das pétalas. Tinha um vestido cor de açafrão desmaiado, realçado por três ramalhetes de rosas de toucar misturadas com verdura.

Charles veio dar-lhe um beijo no ombro.

- Deixa-me! - diz ela. - Amarrotas-me.

Ouviram-se uns acordes de violino e o som duma trompa. Emma desceu a escada, abstendo-se a custo de correr.

Tinham começado as quadrilhas. Chegava gente. Acotovelavam-se. Ela sentou-se perto da porta, sobre uma banqueta.

Terminada a contradança, ficou a sala desobstruída para os grupos de homens, que conversavam de pé, e para os criados de libré, que traziam grandes bandejas. Na fila das mulheres sentadas agitavam-se os leques pintados, os ramos de flores escondiam parcialmente o sorriso dos rostos e frasquinhos com tampas de ouro volteavam em mãos entreabertas cujas luvas brancas marcavam a forma das unhas e apertavam a carne nos pulsos.





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