Madame Bovary - Cap. 8: VIII Pág. 58 / 382

Os enfeites de renda, os broches de brilhantes e os braceletes de medalhão agitavam-se nos decotes, cintilavam nos colos e tilintavam nos braços nus. As cabeleiras, bem coladas à testa e enroladas na nuca, ostentavam, em forma de coroa, de cacho, ou de ramo, miosótis, jasmins, flores de romã, espigas ou centáureas. Sossegadas nos seus lugares, mamãs de rosto carrancudo exibiam toucados vermelhos.

O coração de Emma palpitou um pouco quando, conduzida pelas pontas dos dedos do seu cavalheiro, se foi colocar em linha, à espera do sinal do violino para a partida. Mas logo a emoção desapareceu; e, balançando-se ao ritmo da orquestra, deslizava para a frente, com ligeiros movimentos do pescoço. Assomava-lhe um sorriso aos lábios quando ouvia certos requebros do violino, que algumas vezes tocava em solo, quando os restantes instrumentos se calavam; ouvia-se o límpido tinir dos luíses de ouro lançados nas mesas de jogo, ao lado; depois tudo recomeçava ao mesmo tempo, a trompa de pistões soltava uma descarga sonora, os pés acertavam o passo, as saias rufavam-se e roçagavam, davam-se as mãos e voltavam a deixar-se; os olhares desviavam-se agora, para logo se fixarem de novo.

Alguns homens (cerca de uns quinze), de vinte e cinco a quarenta anos, espalhados entre os dançarinos ou conversando à entrada das portas, distinguiam-se dos restantes por um certo ar de família, qualquer que fosse a diferença de idade, de indumentária ou de fisionornia.

As casacas, mais bem feitas, pareciam de um melhor tecido e os cabelos, puxados em caracóis para os lados da testa, lustrados com pomadas mais finas, Tinham o tom de pele da riqueza, esse tom branco que é realçado pela palidez das porcelanas, as ondulações de cetim, o verniz dos belos móveis, e é mantido na sua pureza por um regime discreto de alimentos raros.





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