Madame Bovary - Cap. 8: VIII Pág. 59 / 382

Moviam o pescoço a vontade em gravatas estreitas; as suíças compridas caíam-lhes sobre colarinhos voltados; limpavam os lábios a lenços bordados com grandes monogramas, exalando um aroma suave. Os que começavam a envelhecer tinham um ar de juveutude, enquanto se notava uma certa maturidade no rosto dos jovens. Nos olhares indiferentes fluruava a quietação de paixões diariamente saciadas; e, através dos modos afáveis, transparecia essa brutalidade particular comunicada pelo domínio de coisas parcialmente fáceis, em que a força se exercita e a vaidade se diverte: manejar cavalos de raça e conviver com mulheres perdidas.

A três passos de Emma, um cavalheiro de casaca azul conversava sbre a Itália com uma senhora nova, pálida, que tinha um adereço de pérolas. Gabavam a espessura dos pilares de São Pedro, o Tivoli, o Vesúvio, CastelIamare e Cassines, as rosas de Génova, o Coliseu visto ao luar. Com o ou:IO ouvido, Emma seguia uma conversação cheia de palavras que ela não entendia. Várias pessoas rodeavam um rapaz muito novo que, na semana anterior, batera Miss Arabelle e Romulus e ganhara dois milluíses a saltar urna vala, em Inglaterra. Um queixava-se de que os seus corredores estavam a engordar; outro, dos erros tipográfIcos que lhe tinham estropiado o nome do cavalo.

O ambiente do baile estava pesado; as luzes enfraqueciam. Todos se iam concentrando na sala de bilhar. Um criado subiu a uma cadeira e partiu dois vidros; com o barulho dos estilhaços, a senhora Bovary voltou a cabeça e avistou, no jardim, contra as vidraças, caras de camponeses que es?reitavam. Veio-lhe então a recordação dos Bertaux. Reviu a quinta, o char:o lamacento, o pai, de blusa, debaixo das macieiras, e reviu-se a si mesma, como outrora, retirando com o dedo a nata das terrinas da queijaria.





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