Madame Bovary - Cap. 1: PRIMEIRA PARTE – I Pág. 8 / 382

Quando havia passeio, conversava com o criado, que, como ele, também era do campo.

À força de ser aplicado, conseguiu manter sempre notas médias na classe; uma vez obteve até uma distinção em História Natural; Mas, no fim do 3.0 ano, os pais retiraram-no do colégio para o mandar estudar Medicina, convencidos de que ele poderia chegar sem auxílio até ao bacharelato.

A mãe alugou-lhe uma divisão num quarto andar, ao pé da Eau-de-Robec, em casa de um tintureiro seu conhecido. Fez os arranjos necessários para a pensão, comprou-lhe móveis, uma mesa e duas cadeiras, mandou vir de casa uma velha cama de cerejeira e comprou ainda um pequeno fogão de aquecimento, em ferro fundido, juntamente com a provisão de lenha que deveria aquecer o seu querido filho. Depois despediu-se dele no fim da semana, após mil recomendações para que fosse bem comportado, agora que ficaria entregue a si mesmo.

O programa afixado com a lista das cadeiras a estudar deixou-o atordoado: Anatomia, Patologia, Fisiologia, Farmácia, Química, Botânica, Clínica, Terapêutica, sem contar Higiene e Matéria Médica, tudo nomes cuja etimologia ignorava e que se lhe apresentavam como outras tantas portas de santuários cheios de augustas trevas.

Não compreendia nada; por mais que escutasse, não apreendia. No entanto, aplicava-se ao estudo, tinha cadernos cosidos com capas, assistia a todas as aulas, não faltava a uma única visita. Cumpria a sua tarefa quotidiana como um cavalo de picadeiro que gira no mesmo lugar, com os olhos vendados, ignorando o que está a fazer.

Para lhe reduzir as despesas, a mãe mandava-lhe todas as semanas, pelo almocreve, um pedaço de vitela assada no forno que ele comia de manhã, quando regressava do hospital, enquanto ia batendo com a sola do sapato na parede.





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