Madame Bovary - Cap. 11: II Pág. 93 / 382

O rapaz corou com este elogio do seu senhorio, que, entretanto, já se voltara para o médico e lhe enumerava, um após outro, todos os principais habitantes de Yonville. Contava anedotas e dava informações; nem se sabia ao certo a fortuna do tabelião, e havia a casa Tuvache, que estava numa situação bastante embaraçosa.

Emma prosseguia:

- E qual é a música que prefere?

- Oh!, a música alemã, aquela que faz sonhar.

- Conhece os italianos?

- Ainda não, mas irei vê-los no próximo ano, quando for morar em Paris, para terminar o meu curso de Direito.

- Como eu tinha a honra de explicar ao senhor seu esposo - disse o farmacêutico - a propósito desse pobre Yanoda que fugiu: graças aos disparates que ele fez, os senhores vão ter a possibilidade de desfrutar uma das casas mais confortáveis de Yonville. A principal comodidade que ela tem para um médico é uma porta para a Alameda, que permite entrar e sair sem ser visto. Aliás, está recheada de tudo quanto é agradável para uma família: divisão própria para lavar a roupa, cozinha com despensa, sala de convívio, casa para guardar a fruta, etc. Era um figurão que não olhava a despesas! Tinha mandado construir, ao fundo do jardim, ao pé da água, um caramanchão, de propósito para beber cerveja no Verão, e, se a senhora gostar de jardinagem, poderá...

- A minha mulher não se ocupa disso - respondeu Charles. - Apesar de lhe ser recomendado o exercício, gosta mais de ficar no quarto, a ler. - É como eu - atalhou Léon. - Há lá efectivamente coisas melhores do que ficar, à noite, ao canto da lareira, a ler um livro, com a luz acesa, enquanto o vento bate nas vidraças!...

- Não é? - disse ela, fixando sobre o rapaz os grandes olhos negros muito abertos.

- Não se pensa em nada - continuava ele - e as horas passam.





Os capítulos deste livro