É a obra-prima da razão e da justiça. Quanto a mim, nada há de mais divino que estes padres, porque fazem aqui a guerra aos reis de Espanha e de Portugal e na Europa são os confessores destes reis. Aqui matam espanhóis, em Madrid mandam-nos para o Céu. Isto maravilha-me. Continuemos. Sereis o mais feliz dos homens! Como os padres vão ficar contentes quando souberem que terão ao seu serviço um capitão que conhece o exercício búlgaro!
Assim que chegaram às guardas-avançadas, Cacambo foi dizer à sentinela que um capitão desejava falar com o monsenhor comandante. Foram prevenir o quartel-general e um oficial paraguaiano correu a dar a notícia ao comandante. Cândido e Cacambo foram imediatamente desarmados e despojados dos seus dois cavalos andaluzes. Os dois foram obrigados a passar entre duas filas de soldados. O comandante estava na extremidade, de tricórnio na cabeça, batina arregaçada, a espada à cinta e o espontão na mão. Fez um sinal e logo vinte e quatro soldados cercaram os dois recém-chegados. Um sargento explicou-lhes que era preciso esperar, pois que o comandante não lhes podia falar, já que o reverendo padre provincial não permitia que espanhol algum abrisse boca senão na sua presença nem permanecesse mais de três horas no pais.
- E onde está o reverendo padre provincial? - perguntou
Cacambo.
- Foi passar revista às tropas, depois de ter dito missa - respondeu o sargento. - Não podereis beijar-lhe as esporas antes de três horas.
- Mas -, perguntou Cacambo - não poderíamos almoçar enquanto esperamos Sua Reverência, já que o Sr. Capitão não é espanhol, e sim alemão, e morre de fome?
O sargento foi imediatamente comunicar esta conversa ao comandante.