- Deus seja louvado - disse este. - Visto que ele é alemão, poderei falar-lhe; que o conduzam à minha tenda.
Conduziram imediatamente Cândido a um caramanchão, ornado de uma linda colunata de mármore verde e ouro, e de gaiolas com papagaios, colibris, galinhas-de-angola e todos os demais pássaros raros. Um excelente almoço estava preparado em vasos de ouro. E enquanto os paraguaianos comiam milho ao ar livre, em escudelas de madeira, sob o ardor do sol, o reverendo padre comandante entrou na sua tenda.
Era um jovem muito formoso, de face redonda, de pele muito branca, corado, sobrancelhas espessas, olhar vivo, lábios vermelhos, aspecto altivo, mas de uma altivez que não era a de um espanhol nem a de um jesuíta. Restituíram a Cândido e a Cacambo as armas que lhes tinham tirado, assim como os cavalos andaluzes. Cacambo deu-lhes aveia a comer, junto da tenda, não os perdendo de vista, com receio de alguma surpresa.
Cândido beijou em primeiro lugar a fímbria da batina do comandante e depois sentaram-se à mesa.
- Vós sois pois alemão? - disse-lhe o jesuíta nessa língua.
- Sim, meu reverendo padre - respondeu-lhe Cândido.
Um e outro, ao pronunciarem estas palavras, olhavam-se com uma surpresa extrema e com uma emoção que não conseguiam dominar.
- E de que região da Alemanha? - inquiriu o jesuíta.
- Da província da Vestefália - respondeu Cândido. - Nasci no castelo de Thunder-ten-trockh.
- Oh, Céus! Será possível?! - exclamou o comandante.
- Que milagre! - exclamou Cândido.
- Sereis vós? - disse o comandante.
- Não, não é possível! - disse Cândido.
Caíram nos braços um do outro, beijaram-se, verteram rios de lágrimas.
- O quê! Sereis vós, meu reverendo padre? Vós, o irmão da bela Cunegundes, vós, que fostes assassinado pelos Búlgaros! Vós, o filho do Sr.