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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 106

O murmúrio imenso do arraial foi amortecendo gradualmente com o fechar da noite. Em breve, não se ouviu nas tendas do Islame senão o respirar lento de tantos milhares de homens adormecidos nos braços do gozo. Junto, porém, das almenaras as risadas dos soldados do conde de Septum, os cantos obscenos inspirados pela embriaguez, as disputas ardentes do jogo, em que o ouro corria de mão em mão, soavam ainda em volta do silêncio do campo. Pouco e pouco, este mesmo ruído foi afrouxando, ao passo que os fachos acesos nas chapadas dos outeiros esmoreciam. A escuridão e o silêncio reinaram, enfim, até nas atalaias. Os soldados godos, cansados de dissoluções, haviam também repousado. E para que prestaria velar? O terror que inspiravam os árabes era o melhor guardador do arraial. Como ousariam os cristãos, medrosos atrás dos muros dos seus castelos, saltear o campo de Abdulaziz? As vigias e almenaras eram apenas uma velha fórmula militar, cuja significação a série não interrompida dos triunfos até então alcançados tornara ininteligível.

Pela calada, porém, da alta noite e no meio das trevas que cobrem, como amplo manto, aquele turbilhão de homens de guerra, descansando então para ao romper do Sol rugir de novo impetuoso, vê-se ainda, através das telas mal unidas de uma tenda mais vasta, reverberar vivo clarão, e ouve-se o rir alegre, o altercar, o tinir argentino das taças; todos os indícios, enfim, de que a orgia se prolongou aí até mais tarde. Ao redor da tenda jazem por terra, com os alfanges nus junto a si, alguns soldados da guarda de Abdulaziz, composta dos guerreiros mais temidos do exército, os negros do remoto país de Al-Sudan. Nos ouvidos deles restruge debalde o alto ruído que soa do interior do pavilhão. Dormem, também, pro-fundamente, e apenas à porta da tenda um deles vela imóvel encostado à acha de armas.

A tenda era, de feito, a do esforçado filho de Musa. A mesa do banquete ainda vergava com os restos das iguarias: os brandões já gastos e os candeeiros mortiços derramavam uma claridade suave pelo aposento. Reclinado sobre um almatrá coberto de preciosa alcatifa do Oriente, o amir escutava o mais moço dos xeiques que estavam junto dele, o qual, ora cantava os versos voluptuosos de Zoheir, que acendiam a imaginação do jovem guerreiro, ora lhe repetia os antigos poemas licenciosos e satíricos de Ibn-Hagiar, que ele aplaudia com estrondosas risadas.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 106

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176