— Quê! Não me obedeceis? Não obedeceis ao filho de Musa — exclamou o amir — porque a sua voz não soa no meio das trombetas e tambores; porque ele não cinge a espada, nem cavalga o seu corcel de batalha? Sem mim, aterram-vos as solidões das montanhas? Xeiques do Sara e de Barca, vális de Andaluz, caides e almocadéns do exército dos crentes... sois covardes e desleais. Quando corre este sangue, vós não sabeis vingá-lo!
— Não somos desleais nem covardes, Abdulaziz — interrompeu o mancebo Abdallah, o único dos chefes árabes que ousava replicar ao amir nos seus violentos acessos de furor. — Mas como queres que te obedeçamos, se não sabemos de quem te havemos de vingar? De um indivíduo ou de milhares deles; dos adoradores de Deus ou dos infiéis nazarenos; de nossos irmãos ou de nossos inimigos, não nos importa. Terás a vingança que pedes, inteira quanto mãos de homens a podem dar. A torrente dos teus cavaleiros espera, apenas, que profiras um nome e apontes um lugar, para correr destruidora e irresistível. Não deves antes disso condenar-nos.
— Quereis um nome e um lugar? — interrompeu o amir. — Ainda, pois, não os adivinhastes? Pelágio e as montanhas do Norte. Lá, lá!... Era ele ou um demónio o que me feriu... Porquê?... Quando?... Oh, agora me lembra. Ia possuí-la, e roubaram-ma! Por alto preço pagarão os nazarenos de Al-djuf tanta audácia. A cavalo, almogaures do deserto... Persegui-o até o encontrardes. Mas vivo... quero-o vivo em minhas mãos! Ai daquele que o matar!
Alguns dos xeiques iam já a sair da tenda para executar as ordens do amir. Um brado súbito deste os fez parar.
— Não!... Não partireis sem mim! Quero acompanhar-vos; hei-de acompanhar-vos pelas brenhas e desvios; quero assistir à carnificina desses mal-aventurados que ainda resistem aos decretos de Deus. É preciso que em breve estejam nas minhas mãos Pelágio e sua irmã. Ambos!... Que me tragam ambos!