Impelidos pelos que os seguiam e arrastados pela própria fúria, galgaram por cima deles; e quando, aos gritos dos almocadéns, ao sofrear dos cavalos, ao baralharem-se os esquadrões em mó apinhada e ao abrirem aos lados, puderam erguê-los do chão onde jaziam, as suas almas tinham subido ao céu, e os seus cadáveres, esmagados, sanguinolentos, desconjuntados, eram duas cousas informes, em que apenas se divisavam vestígios de vultos humanos.
Logo que Viterico e Liúba caíram, um movimento incerto de hesitação afrouxara um pouco a fuga dos seus companheiros; mas a voz de «avante!» proferida pelo cavaleiro negro lhes troou nos ouvidos, e essa voz foi seguida de algumas palavras travadas de lágrimas, de que davam visível sinal o trémulo e cortado com que eram proferidas:
— As almas de dois mártires sobem neste momento ao céu: eles orarão ao Senhor para que salve a liberdade e a vida de seus irmãos, que só querem uma e outra para combaterem pelos altares de Cristo.
Ditas estas palavras, o cavaleiro negro cravou as esporas no ventre do ginete, e repetiu:
— Avante!
E os outros godos seguiram-no sem hesitar mais: a carreira tinha-se convertido numa espécie de fúria louca e desesperada.
Os almogaures, desordenados já, retidos pelas diligências que faziam para alçar os dois cadáveres, e embaraçando-se uns aos outros, viram desaparecer os godos numa garganta estreita, entre rochedos e balsas, enquanto os almocadéns lhes bradavam também:
— Avante!