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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 135

Na borda do espaçoso lajedo, que formava como uma eira irregular, avultavam fragmentos de grossos panos de valos de pedra, e no alto de uma ladeira íngreme que conduzia à entrada daquele circuito achavam-se os vestígios de uma porta de campo, provavelmente a pretoria; a decumana, fronteira a ela, fazia, fora do valo, um limitado terreirinho, em cujo topo, e a bastante profundidade, passava o rio negro e veloz com mugido contínuo. Ainda na borda do rochedo aprumado sobre a água se enxergavam alguns orifícios profundos, que mostravam terem servido para embeber as traves de ponte lançada para a outra margem, também elevada e penhascosa. A situação daquelas ruínas, a forma quase circular dos valos e a sua disposição interior evidentemente indicavam um desses hibernáculos ou arraiais de Inverno alevantados pelas legiões de Roma nas suas tentativas repetidas e quase sempre inúteis para subjugar os celtiberos das cordilheiras da Cantábria e das Astúrias.

A ponte romana, porém, se outrora aí existira, haviam-na consumido as injúrias das estações. Em lugar dela, os habitantes daqueles desvios tinham tombado através do Sália um roble gigante, um dos filhos primogénitos da terra, que nos seus dias seculares fora enredando as raízes nos seios da pedra, até irem beber no leito do rio. A árvore monstruosa, derribada por cima da corrente, caíra sobre o alcantil fronteiro e vivia de uma vegetação moribunda, que mal podia conservar através do cepo, arrancado quase inteiramente do solo. Calva e musgosa, apenas alguma vergôntea, que lhe rompia da enrugada epiderme na Primavera para morrer no Estio, dava sinal de que o rei dos bosques ainda não era inteiramente cadáver. Mas essa pouca vida bastava para que a obra rude dos bárbaros montanheses durasse por mais anos que a edificação regular e sólida dos antigos metatores ou engenheiros das legiões romanas. Para aqueles, todavia, que não estivessem afeitos a perseguir a zebra pelas encostas escarpadas, a galgar os precipícios após a cabra-montês e a combater com os ursos e javalis nas bordas dos fojos, sem se lhes turbar a vista; para esses tais a ponte vegetal dos Astúrios seria um sítio arriscado. No meio do passo estreito, irregular e cilíndrico, sentindo e vendo mugir e desaparecer debaixo dos pés a corrente inchada e turva, quase impossível lhes fora não vacilar: mas ao vacilar seguir-se-ia o despenhar-se, e ao despenhar-se, a morte.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 135

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176