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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 162

De repente, um ai comprimido veio acordá-lo daquela espécie de torpor doloroso. Estremeceu. Era a voz de Hermengarda. Aproximou- se manso e manso, de modo que ela o não visse. Assentada sobre o leito, demudado o gesto, e com o susto pintado no olhar, a irmã de Pelágio estendia os braços, voltando o rosto para o lado, como quem tentava afastar visão medonha. Pelas suas palavras incoerentes e truncadas, o guerreiro conheceu que um sonho mau a agitava, até que, inteiramente desperta, essas palavras confusas se começaram a coordenar em períodos inteligíveis. O pulsar do coração de Eurico redobrava de violência, ao passo que o seu respirar se ia tornando cada vez mais imperceptível.

— Sempre ele! sempre esta visão de remorso! — murmurou Hermengarda. — Meu pai, meu pai! Perdoe-te o céu o orgulho com que repeliste o gardingo... Perdoe-te o céu o haveres-me obrigado a sacrificar aos pés desse orgulho o sentimento de amor que se alevantara neste coração. Nós ambos assassinámos o desgraçado; mas a punição caiu inteira sobre mim! Embora. Eu não te amaldiçoarei, oh meu pai! A tua filha nunca te acusará ante o Supremo Juiz.

Depois, ficou por alguns instantes calada, com os olhos fitos no rochedo fronteiro, em cuja face escabrosa as sombras pareciam dançar e agitar-se à luz da tocha que ardia a curta distância, e que a aragem movia. Crera perceber perto de si um gemido abafado, cortando fugitivo o grande silêncio nocturno.

— Vai-te, vai-te! — prosseguiu ela. — Que posso eu fazer-te, infeliz?... Bem longo e atroz tem sido o meu martírio, porque ainda não achei no mundo alma com quem me fosse dado repartir o cálix do infortúnio; a quem houvesse de contar os tormentos que há tanto tempo me varreram dos lábios o sorrir. Se vivesses, seria tua; tua esposa, tua escrava!... mas a bênção nupcial não pode descer entre o túmulo e a vida. Fávila!... meu pai!... diante do trono do Senhor, onde são iguais o duque e o gardingo, jura-lhe que tua filha repeliu o seu amor por obedecer-te: dize-lhe que o pranto correu destes olhos ao ouvir a nova da sua morte. Oh, dize-lhe, dize-lhe que não fui eu que o assassinei!

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pág. 162 (Capítulo 18)

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 162

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176