O romance histórico, como o concebeu Walter Scott, só é possível aquém do oitavo — talvez só aquém do décimo século; porque só aquém dessa data a vida da família, o homem sinceramente homem, e não ensaiado e trajado para aparecer na praça pública, se nos vai pouco a pouco revelando. As formas e o estilo que convêm aos tempos visigóticos seriam, desde então, absurdos e, parece-me, até, que ridículos.
A Espanha romano-germânica transformou-se na Espanha rigorosamente moderna no terrível cadinho da conquista árabe. A obra literária (novela ou poema — verso ou prosa — que importa?) relativa a essa transição deve combinar as duas fórmulas — indicar as duas extremidades a que se prende; fazer sentir que o descendente de Teodorico ou de Leovigildo será o ascendente do Cid ou do Lidador; que o herói se vai transformar em cavaleiro; que o servo, entidade duvidosa entre homem e causa, começa a converter-se em altivo e irrequieto burguês.
E a forma e o estilo devem aproximar-se mais ou menos de um ou de outro extremo conforme a época em que lançamos a nossa concepção está mais vizinha ou mais remota da que vai deixando de existir ou da que vem surgindo. A dificultosa mistura dessas cores na paleta do artista nenhuma doutrina, nenhum preceito lha diz: ensinar-lha-á o instinto.
Tive eu esse instinto? É mais provável o não que o sim. Se a arte fora fácil para todos os que tentam possuí-la, não nos faltariam artistas!»
Leovigildo expulsara da Espanha quase que os derradeiros soldados dos imperadores... e expirara em Toletum. «Hesitei muito tempo sobre se conviria usar dos nomes próprios, quer de pessoas quer de lugares, como as sucessivas alterações da linguagem na Espanha os foram transformando, a ponto de muitos deles se acharem hoje totalmente diversos do que eram na sua origem.