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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 49

Depois, os desconhecidos partiam, sem que ninguém ousasse atalhar-lhes os passos; e, quando Juliano voltava para a pequena ala dos soldados da província transfretana, via-se-lhe o rosto, não radiante do contentamento que ressumbra de um coração puro quando folga, mas como sulcado por um raio da alegria feroz do criminoso que vê chegar o momento do crime há muito meditado e previsto.

Havia dois dias que nenhum incógnito atravessara o Chrysus para falar a sós com Juliano e Táriq. Estes passavam horas inteiras vagueando nas alturas vizinhas do acampamento pelo lado do meio-dia e do oriente. Dali olhavam para a montanha em cujo cimo campeava a antiga povoação de Asta, e, depois de a examinarem por largo espaço, voltavam ao campo ou corriam às atalaias, que se multiplicavam continuamente. Depois, tudo recaía no silêncio e na escuridão; porque as almenaras ou fogueiras nocturnas, que eram de uso entre os Árabes, haviam inteiramente cessado desde a primeira noite em que estes assentaram as tendas perto da beira do rio.

Ia em meio a terceira noite após aquela em que os crentes do Islame tinham parado nas faldas setentrionais das cordilheiras de Asido. Eram profundas as trevas que se dilatavam pela face da Terra, mas os raios cintilantes das estrelas rareavam o manto negro da atmosfera. Esta luz incerta reverberava trémula e fugitiva nas pontas das lanças dos atalaias, que, apinhados na coroa dos outeirinhos ou embrenhados entre as sebes dos valados, observavam os picos agudos que, ao longe para o norte, negrejavam como recortados nas profundezas do céu. O Chrysus murmurava lá em baixo, e a esteira da corrente faiscava, também, com o reverberar da luz dos astros, enquanto o vento, passando pelas ramas de algumas árvores solitárias, respondia ao seu murmurar com o gemer da folhagem movediça.

Subitamente, no meio deste silêncio, alguns esculcas e vigias lançados além do rio, na margem direita, creram perceber um ruído longínquo, que menos exercitados ouvidos não saberiam distinguir do remoto e quase imperceptível despenhar de torrente. Então eles se debruçaram no chão e, unindo a face à terra, escutaram por alguns momentos.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 49

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176