Depois, erguendo-se a um tempo, ouviu- -se entre eles uma voz sumida, que dizia: «Os romanos!»
— e a turba repetiu: «Os romanos!» E, unindo-se numa fileira, encurvaram os arcos e ficaram imóveis.
Pouco a pouco aquele ruído, mal sentido a princípio, cresceu e tornou-se mais distinto. Brevemente fácil foi de perceber o tropear de milhares de cavalos e o bater confuso dos pés de milhares de homens. Os esculcas árabes conservavam-se unidos e em silêncio.
De repente o grito de «Allah!» retumbou de além do Chrysus: seguiu-se um estridor de poucas frechas, e num instante os atalaias do campo viram alvejar fitas de escuma que se estendiam através do rio para a margem esquerda. Eram os esculcas que o cruzavam a nado, tendo empregado na dianteira dos godos os seus primeiros tiros.
Uma nuvem de setas respondeu ao sibilar das dos esculcas árabes; algumas das fitas de escuma ondearam, derivaram pela corrente e desvaneceram-se no dorso escuro e cintilante das águas. O Chrysus recolhia os primeiros despojos de um terrível combate.
Na principal atalaia dos muçulmanos soou então uma trombeta; centenares delas responderam por todos os ângulos do campo a este convocar para a morte. Os esquadrões uniam-se com a rapidez do relâmpago e, abandonando o recinto das tendas, arrojavam-se para as margens do rio
Os godos, porém, tinham a vantagem de caminharem ordenados e, por isso, haviam topado com a corrente antes que os seus contrários começassem a atravessar a planície fronteira. As frechas caíam sobre os árabes, que se aproximavam, como saraiva espessa; largas e sólidas jangadas, trazidas em carros puxados por mulas possantes da Lusitânia, baqueavam sobre a água e, desdobrando-se com engenhosa arte, cresciam até entestar com a margem oposta.