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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 67

Pendia-lhe da esquerda do arção a borda ensanguentada, da direita o franquisque. O ginete tresfolegava na fúria da carreira, açoutando os ares com as crinas ondeantes e atirando-se ao meio da espécie de voragem aberta nas fileiras cristãs, a qual como que tragava uns após outros os esquadrões muçulmanos. Ao chegar à confluência daquelas encontradas torrentes de homens armados, o guerreiro parou, e, olhando em roda por um momento, ouviu-se-lhe um grande brado. Era a primeira vez que a sua voz soava no meio da batalha, e a única palavra que lhe saiu da boca foi o nome de Teodemiro. Esse brado devia chegar longe, reboando como o trovão. Dir-se-ia que o cavaleiro estava habituado à conversação do bramido dos mares revoltos e do rugir das ventanias pelas fragas das serras; porque naquele grito, conjunto inexplicável de cólera e de dor, havia uma semelhança, uma harmonia com o gemido imenso da natureza quando luta consigo mesma no passar da tempestade.

Mas aos ouvidos de Teodemiro não podia chegar a voz do desconhecido. Arrastado pelos turbilhões de fugitivos, forcejando por obrigá-los a voltar o rosto contra os árabes, ora com palavras de amarga repreensão, ora com o exemplo, o duque de Córdova combatia mui longe dele. Em vão o cavaleiro negro lhe repetia o nome: era inútil este chamar e, apenas, servia para atrair os golpes dos agarenos vitoriosos. As achas de armas, as cimitarras, os dardos faziam centelhar a armadura e o escudo do desconhecido, que, tomado, ao que parecia, dum pensamento doloroso, alongava os olhos por toda a parte em busca de Teodemiro. Com um gemido de desalento, o cavaleiro saiu, enfim, da espécie de torpor que o tornava imóvel ante o espectáculo de tanta desventura, e o seu despertar foi tremendo. Erguendo em alto a maça de armas e vibrando-a furiosamente em volta de si, começou a partir espadas e a abolar armaduras. Em breve, ao redor dele, no meio dos muçulmanos vencedores, o terror invadia os ânimos, como na véspera, como nesse mesmo dia, se espalhara por toda a parte onde haviam reluzido as puas da sua ensanguentada borda ou o ferro do seu cortador franquisque.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 67

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176