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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 66

Como na véspera, o Sol inclinava-se das alturas do céu para o ocaso, e ainda a batalha estava indecisa, se é que o terror que incutia o cavaleiro negro no lugar onde pelejava não fazia pender um pouco a balança do lado dos godos. De repente, um grito agudo partiu do mais espesso revolver do combate; este grito gigante, indizível, de íntima agonia, era o brado uníssono de muitos homens; era o anúncio doloroso de um sucesso tremendo. O cavaleiro negro, que, impelido pela ebriedade do sangue, e semelhante a rochedo que se despenha pelo pendor da montanha, ia derramando a morte através dos esquadrões do Islame, volveu os olhos para o lugar onde soara o bramido retumbante da multidão. Era no centro do exército godo. As tiufadias vergavam em semicírculos para a banda do Chrysus, como o açude minado pela torrente, a ponto de desprender- se das margens, oscila e se curva, bojando sobre a veia inferior das águas. A muralha de ferro que, posta entre o islamismo e a Europa, dizia à religião do profeta de Iátribe «não passarás daqui» vacila, como a quadrela de cidade fortificada batida muitos dias por vaivém de inimigos. Por fim, aqueles vastos maciços de homens ligados pela cadeia fortíssima da disciplina, do pudor militar e do esforço, derivam rotos ante os turbilhões dos árabes, ondeiam e derramam-se na campina. Pelo boqueirão enorme aberto no centro da hoste goda precipitam-se as ondas dos cavaleiros maometanos, e, após eles, a turba dos bereberes, com um bramido bárbaro. Debalde as alas tentam ajuntar-se, travar-se uma com a outra, soldar os membros despedaçados do leão ibérico. Passa por lá a impetuosa corrente dos netos de Agar, que envolve e arrasta os que pretendem vadeá-la. Deus contara os dias do império de Leovigildo, e o sol do último deles era o que descia já para o ocidente!

O cavaleiro negro vira a fuga das batalhas godas, advertido pelo clamor que a precedera. Voltando as rédeas do seu murzelo, esporeou-o para aquela parte. Levava lançado às costas o escudo, onde os tiros dos archeiros africanos ciciavam, como a saraiva no Inverno batendo nos troncos despidos do roble.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 66

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176