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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 84

Como o tufão rugindo se abisma nas galerias tortuosas de mina extensa, assim os godos renegados e os muçulmanos, que os seguem de perto, se precipitam dentro do mosteiro. Pelas arcadas e corredores, pelas salas e aposentos ouve-se o rir e falar desentoado, o ruído de passadas rápidas, o tinir das armas, o estourar das portas. Árabes, mouros, soldados godos da Tingitânia misturam-se, disputam, ameaçam-se, dividindo o saco. Os xeiques e os capitães do conde de Septum vedam-lhes unicamente a entrada das habitações interiores, onde a riqueza do templo lhes promete à cobiça mais avultada presa. Eles sós se encaminham para essa parte e desaparecem nos claustros monásticos, onde não se ouve outro sinal de vivos, senão o som de seus pés e, a espaços, o tinir das próprias armaduras, que roçam pelos pilares de mármore.

Suíntila, o desonrado irmão do virtuoso Atanagildo, era do número dos capitães que haviam primeiramente penetrado no claustro solitário. Tinha-se adiantado mais e descia por uma escadaria lôbrega que terminava, segundo parecia, numa quadra alumiada por muitas tochas. Esta circunstância, que lhe excitava viva curiosidade, obrigou-o a apertar o passo. A meia descida parou. Crera ouvir um cântico entoado por muitas vozes acordes, que a espaços era interrompido por gemidos dolorosos. Escutou: não se enganava! Então o terror começou a apossar-se dele, e, porventura, teria retrocedido, se não sentira que alguém mais o seguia. Eram dois xeiques árabes e um centenário do conde de Septum que o acaso guiara para aquela parte. Interposto entre o clarão avermelhado que saía do subterrâneo e os três que se aproximavam, Suíntila fez-lhes sinal de silêncio e continuou a descer mansamente até chegar à porta que dava da escadaria para o aposento iluminado. Então conheceu onde estava. Era um desses lugares misteriosos e santos que a primitiva arquitectura religiosa construía debaixo dos templos — templos também, mas da morte; porque aí, sobre os altares, repousavam as cinzas dos mártires, e aos pés deles os fiéis que obtinham para última jazida uma pouca de terra onde ainda fossem afagar-lhes as cinzas o sussurro longínquo das preces e o perfume dos sacrifícios. Suíntila achava-se na cripta do Mosteiro da Virgem Dolorosa.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 84

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176