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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 85

O clarão que vira era o de muitos lumes, acesos em lampadários gigantes, e reverberando nas estalactites penduradas das junturas do mármore: era o reflexo das tochas que ardiam diante dos crucifixos, únicas imagens que se viam sobre as aras nuas. Em cada um dos túmulos das monjas antigas, enfileiradas ao comprido dos muros, negrejavam apenas uma data e um nome. Era o que restava para memória de muitas virtudes naqueles anais do mosteiro, naquela cronologia de pedra. O sepulcro da viúva de Hermenegildo, o desgraçado irmão de Recaredo, elevado mais que os outros à entrada do templo subterrâneo, semelhava um trono de rainha em palácio de sombras, porque o ambiente grosso e frio e o hálito das sepulturas revelavam que aí era o império da morte.

As torrentes de luz que inundavam esta morada de terror não permitiram a Suíntila enxergar no primeiro volver de olhos os objectos que estavam ante ele. Espantado, tentava descobrir no meio daquela resplandecente solidão algum vulto humano, quando os cantos e gemidos, suspensos momentaneamente, romperam de novo: primeiro as vozes harmoniosas; depois o gemido íntimo, doloroso, afogado; logo outra vez o silêncio.

Os dois xeiques e o centenário tinham chegado ao pé de Suíntila. Animados uns pela presença dos outros, encaminham-se para o grande túmulo e dali olham para o lugar donde haviam soado os cânticos. Eis o temeroso espectáculo que têm diante de si:

Grossos e altos cancelos de roble separam do resto do templo um extenso recinto sem sepulcros, imediato ao altar principal: ergue-se no topo cruz agigantada: por um e outro lado daquele espaço além das grades negrejam duas fileiras de monjas: muitas estão de joelhos e debruçadas sobre o primeiro degrau do altar: em pé, entre as duas fileiras, uma delas, cujos olhos desvairados reluzem à claridade das tochas e cujo aspecto severo infunde uma espécie de terror, tem na mão um punhal, cujo ferro sem brilho parece tinto em sangue. Junto da monja um vulto de mulher vestida de branco sobressai no meio das virgens cobertas de luto: unido às grades que defendem a entrada daquele recinto, um velho, cujas melenas e longa barba lhe alvejam sobre os ombros e peito, está de joelhos com os braços estendidos através da balaustrada: agita-o uma convulsão horrível de pavor, que lhe embarga na garganta os sons articulados e só lhe consente murmurar um ruído confuso, semelhante ao respiro ansioso de agonizante. Um dos dois coros de freiras começa a entoar de novo os salmos: a monja do punhal estende a mão, ordenando silêncio.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 85

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176