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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 87

Uma das monjas saiu dentre as outras e veio ajoelhar aos pés da abadessa: as suas companheiras ajoelharam também voltadas para o altar; e o hino que Suíntila ouvira ao descer para a cripta murmurou de novo naquelas curvas abóbadas.

Como lá no horizonte o Sol trémulo e sereno se reclina ao fim da tarde no seio tenebroso dos mares, assim o canto melancólico e melodioso das virgens foi pouco a pouco enfraquecendo até expirar no cicio de orações submissas. Apenas cessou de todo, um gemido de agonia agudo e rápido soou junto da abadessa. Aos olhos de Suíntila afigurou-se que o punhal de Cremilde descera duas vezes sobre a monja que estava a seus pés. Um brado de cólera e horror, saindo involuntariamente da boca do godo, restrugiu no templo. Crera o renegado que Hermentruda havia sido assassinada. Pareceu- lhe então claro o sentido das palavras misteriosas que ouvira. As monjas fugiam ao cativeiro do harém pelo ádito do sepulcro. Ele assistia a uma cena horrenda de suicídio, e o braço mais robusto de Cremilde apenas era o instrumento cego movido por todas essas vontades, conformes para morrer.

— Mulher ou demónio, detém-te! — bradou Suíntila, correndo com os xeiques e o centenário para o recinto fechado e procurando abrir os fortes cancelos que lhe embargavam os passos.

Embebidas no seu drama cruel, nem as monjas, nem Cremilde volvem sequer os olhos para os quatro guerreiros, cujas armas reluzem ao fulgor das tochas. Hermentruda não está morta. Ergueu-se. Tem a cabeça descoberta, os louros cabelos esparzidos, o colo nu. Bem como o aspecto do formoso arcanjo de luz no dia em que, rebelde, a espada de fogo lhe estampou na fronte a condenação eterna, o seio e o rosto da monja, suavemente pálidos, estão sulcados por betas escuras, que serpeiam por aquele gesto como as víboras estiradas ao sol sobre um busto grego tombado entre as ruínas de antigo templo pagão. É que, semelhantes ao nordeste frio e agudo, que, passando pela bonina viçosa, lhe desbarata os encantos, os fios do punhal de Cremilde correram por lá violentos e rápidos, e num momento aniquilaram a formosura da virgem.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 87

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176