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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 93

Esta carta de Hermengarda produzira cruéis receios no ânimo do mancebo. Sabia que os árabes, derramados já pela Galécia, não tardariam a envolver na torrente das suas assolações a antiga cidade romana: ele, que experimentara qual era a fúria dos guerreiros do Oriente, compadecia-se das vãs esperanças de resistência que os habitantes de Légio alimentavam ainda. De feito, um dia em que enviara alguns cavaleiros pelos diversos caminhos que Hermengarda poderia seguir na sua arriscada e longa peregrinação, voltaram sobre a tarde com uma bem triste nova. Os árabes, capitaneados por Abdulaziz, haviam chegado junto aos muros daquela forte povoação, e poucas horas lhes tinham bastado para hastearem nas suas torres o estandarte de Mohammed e para passarem à espada os seus defensores. Deixando aí uma das tribos bereberes, o exército dos conquistadores guiara rapidamente para a Tarraconense, e os esculcas godos haviam escapado a custo aos almogaures árabes, desaparecendo entre os desvios das serras e espreitando das apertadas portelas o caminho que seguia a multidão dos infiéis, os quais lhes pareceu dirigirem-se para o lado do célebre Mosteiro da Virgem Dolorosa. Quanto à irmã de Pelágio, nenhuns vestígios haviam encontrado da sua passagem; nenhuma esperança traziam.

Tais foram as novas que os cavaleiros enviados aos vales além de Légio deram ao moço guerreiro, que já os esperava impaciente em uma das gargantas do Vínio. Cheio de tristeza, Pelágio voltou então para a sua morada selvática, para o esconderijo pelo qual havia tanto tempo trocara os paços paternos da esplêndida Tárraco. Durante muitas horas, no meio do denso nevoeiro acamado sobre as encostas, pelas sendas tortuosas das montanhas, os cavaleiros que seguiam o duque de Cantábria não ousaram quebrar-lhe o doloroso silêncio. Apenas, pela calada da noite negra e fria, soava lá ao longe o ruído do Sália, de cujas margens por vezes se aproximavam. O sussurrar, porém, da corrente, amortecido de quando em quando pela distância, confundia-se com o ramalhar nas sarças do lobo que fugia e com o brando rugir dos pinhais, balouçados pela bafagem do vento. Estes sons vagos e confusos respondiam ao tropear dos ginetes, galgando as serras ou descendo lentamente e enfileirados à borda dos precipícios. O nevoeiro, mergulhando-se nestes, branqueava-lhes os seios e revelava a sua existência, deixando entre uns e outros como uma fita tortuosa e escura, que ia morrer mui perto no breve horizonte, encurtado pela cerração e pelas trevas.

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Capa do livro Eurico, o Presbítero
Páginas: 186
Página atual: 93

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 4
Capítulo 3 7
Capítulo 4 12
Capítulo 5 18
Capítulo 6 22
Capítulo 7 28
Capítulo 8 32
Capítulo 9 46
Capítulo 10 55
Capítulo 11 63
Capítulo 12 71
Capítulo 13 90
Capítulo 14 105
Capítulo 15 121
Capítulo 16 134
Capítulo 17 148
Capítulo 18 158
Capítulo 19 171
Capítulo 20 176