Posso apenas afirmar que os instintos certamente variam - por exemplo, o instinto migratório, em alcance e direcção e na sua perda total. Assim sucede com os ninhos das aves, que em parte variam dependendo das situações escolhidas e da natureza e temperatura da região habitada, mas frequentemente por causas que desconhecemos completamente: Audubon apresentou diversos casos notáveis de diferenças em ninhos da mesma espécie no Norte e no Sul dos Estados Unidos. O medo de qualquer inimigo particular é certamente uma qualidade instintiva, como se pode ver nas aves implumes, embora seja reforçado pela experiência, e por ver noutros animais o medo do mesmo inimigo. Mas o medo ao homem é lentamente adquirido, como mostrei noutro lugar, por vários animais que habitam ilhas desertas; e podemos ver um exemplo disto, mesmo em Inglaterra, no facto de todas as nossas aves grandes serem mais bravias do que as nossas aves pequenas; pois as aves grandes sofreram maior perseguição por parte do homem. Podemos seguramente atribuir a esta causa o facto de as nossas aves grandes serem mais bravias; pois nas ilhas inabitadas as aves grandes não são mais medrosas do que as pequenas; e a pega-rabuda, tão cautelosa em Inglaterra, é mansa na Noruega, como a gralha-cinzenta no Egipto.
Uma multidão de factos mostra que o temperamento geral dos indivíduos da mesma espécie nascidos em estado natural é extremamente diversificado. Poder-se-ia também apresentar diversos exemplos, em certas espécies, de hábitos ocasionais e estranhos que poderiam, se aí houver vantagem para a espécie, dar origem, através da selecção natural, a instintos completamente novos. Mas estou bem ciente de que estas afirmações gerais, sem a apresentação detalhada de factos, só podem produzir um efeito débil na mente do leitor.