A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 229 / 524

Posso apenas reiterar a minha confiança de que não falo sem ter bons indícios.

A possibilidade, ou mesmo a probabilidade, das variações de instinto herdadas em estado de natureza será reforçada considerando brevemente alguns exemplos sob domesticação. Assim, seremos também capazes de ver os respectivos papéis que o hábito e a selecção das chamadas «variações acidentais» desempenharam, ao modificar as qualidades mentais dos nossos animais domésticos. Poder-se-ia apresentar uma série de exemplos curiosos e genuínos da hereditariedade de todos os matizes de temperamento e gostos, e também dos ardis mais extravagantes, associados a certas disposições mentais ou períodos de tempo. Mas olhemos para o caso familiar das diversas linhagens de cães: não se pode duvidar de que os pointers jovens (eu próprio observei um exemplo impressionante) por vezes apontam e até auxiliam outros cães na primeira vez que são levados a caçar; o acto de ir buscar a caça é certamente até certo ponto herdado pelos retrievers; e a tendência para correr à volta de um rebanho de ovelhas, em vez de na direcção deste, é herdada pelos cães pastores. Não vejo que estas acções, realizadas sem experiência pelos animais jovens e quase da mesma maneira por cada indivíduo, realizadas com uma alegria impaciente por cada linhagem, sem conhecimento da sua finalidade - pois o jovem pointer sabe tanto que aponta para auxiliar o seu dono como a borboleta branca sabe porque põe os seus ovos na folha da couve -, não vejo em que diferem essencialmente estas acções dos instintos genuínos. Se víssemos um tipo de lobo, jovem e sem qualquer treino, ficar imóvel como uma estátua assim que farejasse a presa e depois rastejar lentamente para a frente com um jeito peculiar; e outro tipo de lobo a correr à volta de um bando de veados em vez de na sua direcção, conduzindo-os para um ponto distante, seguramente consideraríamos tais acções como instintivas.





Os capítulos deste livro