E Ciriatto, de cuja boca, por ambos os lados, saíam presas de javali, fê-lo sentir de que modo elas rasgavam. O rato caíra nas garras do gato; mas Barbariccia entre os braços o agarrou e disse: «Mantende-vos quietos enquanto eu o trespasso.» E para o meu mestre o rosto volveu: «Pergunta mais», disse, «se mais pretendes saber dele, antes de por nós todos ser desfeito.» Disse então o meu guia: «Diz-me agora: dos outros condenados, conheces algum que seja latinos, dos que estão sob o pez?» E ele: «Separei-me há pouco de um que era de perto. Assim estivesse ainda submerso com ele, que nem garras nem craques temeria!» E Libicocco: «De mais já suportamos!» E enganchou-lhe o braço com o craque, de modo que, puxando, um pedaço lhe arrancou. Draghignazzo quis também atingi-lo em baixo pelas pernas, mas o decurião de todos em redor olhou, mal encarado. Quando um pouco se acalmaram, ao condenado, que fitava ainda a sua ferida, perguntou o meu guia sem tardança: «Quem foi esse de que em má hora te apartaste para à tona vires?» E ele respondeu: «Foi Frei Gomita, o de Gallura, poço de fraudes sem ter conta, que nas mãos teve os inimigos do seu amo e tanto fez que todos o louvaram. Extorquiu-lhes dinheiro e livres os deixou, como ele próprio conta, e de cargos foi também traficante e não pequeno, bem antes soberano. Com ele conversa Michel Zanche, senhor de Lagodoro, e a falar da Sardenha nunca a língua se lhes cansa.
Ai de mim, olhai o outro como range os dentes! Mais vos diria, mas temo que a arranhar-me a pele se disponha.»
E o grande preboste voltou-se para Farfarello, que revirava os olhos, buscando onde ferir, e disse: «Ao largo, ave danada!» «Se quereis ver ou ouvir», recomeçou o apavorado prisioneiro, «toscanos ou lombardos, eu lhes direi que venham; mas que os Malebranche se mantenham um pouco afastados, para que não temam a vingança deles, que eu, aqui mesmo sentado, sendo um só, sete farei vir ao assobiar, como é nosso costume fazer, quando algum de nós a sair se aventura.»