Winston continuava sem saber-lhe o nome nem o endereço. Não fazia diferença, porém, pois era inconcebível que pudessem se encontrar num recinto fechado, ou trocar qualquer comunicação escrita.
Aconteceu porém que nunca voltaram à clareira do bosque. Durante o mês de maio só houve outra ocasião em que conseguiram ficar sós algum tempo. Foi noutro esconderijo conhecido de Júlia, o campanário de uma igreja arruinada, local quase deserto onde uma bomba atómica caíra trinta anos antes. Era bom lugar para se esconder, mas o perigo era chegar até lá. O resto do tempo só podiam se encontrar nas ruas, cada vez num lugar diferente, e nunca durante mais de meia hora. Na rua, em geral era possível conversar, de certo modo. Vagueando pelas calçadas cheias de gente, sem ser lado a lado, e nunca se entreolhando, tinham palestras curiosas, intermitentes, que sumiam e reapareciam como os fachos de um farol, subitamente silenciadas pela aproximação de um uniforme do partido ou a proximidade de uma teletela, e reiniciadas, minutos mais tarde, no meio duma frase, ou então cortadas ex-abrupto quando se separavam num ponto combinado, e continuadas quase sem introdução no dia seguinte. Júlia parecia bastante acostumada a esta espécie de conversa, a que chamava "falar a prestações." Tinha também uma surpreendente habilidade de falar sem mexer os lábios. Apenas uma vez, em quase um mês de encontros noturnos, conseguiram trocar um beijo. Iam passando em silêncio por uma rua lateral (Júlia nunca falava quando estavam longe das artérias principais) quando se ouviu um ribombo ensurdecedor; a terra tremeu e o ar se escureceu. Winston achou-se caído de lado, com escoriações e muito medo. Uma bomba-foguete devia ter caído bem perto.