- Um dia destes arranco-o daí e dou-lhe uma boa limpadela. Acho que já é hora de irmos embora. Preciso tirar esta tinta da cara. Que chatice! Depois tiro o batom do teu rosto.
Winston só levantou dali a uns minutos. O quarto escurecia. Voltou-se para a luz e ficou examinando o peso de papéis. O que lhe oferecia um grande interesse não era o fragmento de coral, porém o interior do vidro em si. Tinha tremenda profundidade e no entanto era quase transparente como o ar. Como se a superfície do vidro fosse a abóbada celeste, contendo um pequenino mundo, completo com sua atmosfera. Winston tinha a impressão de poder penetrá-lo, e que de fato estava nele, junto com a cama de mogno e a mesa dobradiça, o relógio, a gravura em aço e o próprio peso de papéis. O peso de vidro era o quarto em que estava, e o coral era a vida de Júlia e a dele, fixadas para a eternidade no coração do cristal.