Em outras palavras, é necessário que tenha a mentalidade apropriada ao estado de guerra. Não importa que de fato haja uma guerra e, como não é possível uma vitória decisiva, pouco importa que a guerra vá bem ou mal. O que importa é que possa existir o estado de guerra. A divisão intelectual que o Partido exige dos seus membros, e que é mais fácil de obter numa atmosfera de guerra, é agora quase universal, porém, quanto mais se sobe nos quadros, mais nítida se torna. É precisamente no Partido Interno que a histeria de guerra e o ódio ao inimigo são mais fortes. Na sua posição de administrador, muitas vezes é necessário a um membro do Partido Interno saber se esta ou aquela notícia de guerra é falsa, e muitas vezes, ele pode perceber que a guerra inteira é espúria e que, ou não está sendo travada, ou está sendo travada por objetivos diferentes dos declarados: mas essa consciência é facilmente neutralizada pela técnica do duplipensar. Entrementes, nenhum membro do Partido Interno hesita por um instante na sua crença mística de que a guerra é real, que está fadada a terminar pela vitória, ficando, a Oceania senhora indisputável do mundo inteiro.
Todos os membros do Partido Interno creem, como num artigo de fé, nessa vitória futura. Será obtida quer pela aquisição gradual de território e, consequentemente, acúmulo de esmagadora preponderância de força, quer pelo descobrimento de uma nova arma irrespondível. A busca de novas armas prossegue sem cessar, e é uma das poucas atividades restantes em que o espírito inventivo ou especulativo se pode expandir. Atualmente, na Oceania, a ciência quase cessou de existir, no sentido antigo. Em Novilíngua não existe palavra para "ciência".