Capítulo 17: Capítulo XVII
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Aqueles cuja atitude em face da guerra é mais próxima da sensatez são povos submissos dos territórios disputados. Para eles a guerra não passa de uma calamidade contínua que se diverte a jogá-los de um lado para outro como um maremoto. É-lhes completamente indiferente saber quem está ganhando. Percebem que a mudança de donos significa apenas que farão o mesmo trabalho que antes para os novos amos, que os tratarão como os tratavam os antigos. Os operários ligeiramente mais favorecidos a que chamamos "proles" têm consciência intermitente da guerra. Quando é necessário, são instigados e levados a frenesins de ódio e medo, mas, entregues a si próprios, são capazes de esquecer, por longos períodos, que a guerra está acontecendo. É nas fileiras do Partido, e acima de tudo do Partido Interno, que se encontra o verdadeiro entusiasmo de guerra. Acreditam na conquista do mundo, com maior firmeza, aqueles que a sabem impossível. Essa particularíssima amálgama de opostos -sabedoria e ignorância, cinismo e fanatismo - é um dos sinais que distinguem a sociedade oceânica. A ideologia oficial abunda em contradições mesmo onde não há para elas qualquer razão prática. Assim, o Partido rejeita e vilifica qualquer princípio originalmente defendido pelo movimento socialista, e no entanto o faz em nome do socialismo. Prega um desdém pela classe operária de que não há exemplo há muitos séculos, e todavia veste os militantes num uniforme que foi característico dos trabalhadores manuais e adotado por essa razão. Mina sistematicamente a solidariedade da família, ao passado que dá ao seu chefe um nome que é um apelo direto ao sentimento de lealdade familiar. Até os nomes dos quatro Ministérios por que somos governados ostentam uma espécie de impudência na sua deliberada subversão dos fatos.
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Páginas: 309
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