Refletiu que ainda não aprendera o segredo final. Compreendia como; ainda não entendia por quê. O Capítulo I, como o III, não lhe dissera nada que já não soubesse; apenas sistematizara o conhecimento que já possuía. Mas depois de lê-lo tinha maior certeza de não estar louco. Estar em minoria, mesmo em minoria de um, não era sintoma de loucura. Havia verdade e havia mentira, e não se está louco porque se insiste em se agarrar à verdade mesmo contra o mundo todo. Um raio amarelo do sol poente penetrou em oblíqua pela janela e iluminou o travesseiro. Ele fechou os olhos.
O sol no rosto e o corpo macio da moça, encostado ao seu, davam-lhe um forte sentimento de sonolência e confiança. Estava em segurança, e tudo ia bem. Adormeceu murmurando "A sanidade mental não é questão de estatística", e com a impressão de que essas palavras continham profunda sabedoria.
Quando acordou, teve a sensação de ter dormido longo tempo, porém uma consulta ao antigo relógio mostrou-lhe que eram apenas vinte e trinta. Deixou-se ficar na cama alguns instantes. Depois, a cantoria costumeira, forte e rija, subiu do quintal:
«Foi apenas uma fantasia desesperada,
Que passou como um dia de abril,
Mas um olhar, uma palavra, e os sonhos provocados,
Roubaram o meu coração gentil!»
A cantiga pueril parecia ter conservado a popularidade. Ainda se fazia ouvir por toda parte. Sobrevivera a Canção do ódio. Júlia acordou com o barulho, espreguiçou-se como uma gata e pulou da cama.
- Estou com fome! - anunciou. - Vamos fazer um café. Bolas! O fogareiro apagou e a água esfriou! - Apanhou o fogareiro e sacudiu-o. - Está vazio.
- Creio que o velho Charrington pode arranjar um pouco de óleo.