Por que seria o fruto considerado inferior à flor?
- Ela é bonita! - murmurou ele.
- Tem um metro de diâmetro, nas cadeiras - disse Júlia.
-É o seu estilo de beleza - respondeu Winston.
Ele passou o braço em torno da cintura fina de Júlia. Do quadril ao joelho, o flanco da moça colava-se ao dele. Dos seus corpos não sairia filho algum. Era a única coisa que nunca poderiam fazer. Só pela palavra oral, e pela comunicação mental podiam transmitir o segredo. A mulher do quintal não tinha mente, só tinha braços fortes, coração quente, ventre fértil. Ele gostaria de saber quantos filhos ela tivera. Talvez quinze, facilmente. Tivera o seu afloramento momentâneo, um ano talvez, de beleza de rosa brava, e depois, inchara de repente, como um fruto fertilizado, tornando-se dura, vermelha e rústica, e a sua vida fora apenas lavar, esfregar, remendar, cozinhar, varrer, polir, consertar, esfregar, lavar, primeiro para os filhos, depois para os netos, durante trinta anos sem interrupção. E no fim ainda cantava. A reverência mística que Winston por ela sentia misturava-se, de certo modo, com o aspeto do céu pálido e sem nuvens, dilatando-se, por trás das chaminés, e atingindo distâncias intermináveis. Era curioso pensar que o céu era o mesmo para todos, na Eurásia como na Lestásia, como na Oceania. E o povo que vivia sob o céu era também muito parecido - por toda parte, em todo o mundo, centenas ou milhares de milhões de pessoas exatamente assim, ignorantes da existência dos outros, separadas por muralhas de ódios e mentiras, e no entanto quase exatamente iguais - gente que nunca aprendera a pensar mas guardava no coração, no ventre e nos músculos a força que um dia revolucionaria o mundo.