1984 - Cap. 20: Capítulo XX Pág. 274 / 309

A segunda coisa que deves entender é que poder é o poder sobre todos os entes humanos. Sobre o corpo mas, acima de tudo, sobre a mente. O poder sobre a matéria - realidade externa, como a chamarias -não é importante. E o nosso poder sobre a matéria já é absoluto.

Por um momento, Winston ignorou o mostrador. Fez um violento esforço para se sentar, e só conseguiu torcer o corpo dolorosamente.

- Mas como podes controlar a matéria? - explodiu. - Não consegues nem dominar o clima nem a lei da gravidade. E há a doença, a morte, a dor...

O'Brien calou-o com um gesto.

- Controlamos a matéria porque controlamos a mente. A realidade está dentro da cabeça. Aprenderás aos poucos, Winston. Não há nada que não possamos fazer. Invisibilidade, levitação... tudo. Eu poderia flutuar no ar, como uma bolha de sabão, se quisesse. Mas não quero, porque o Partido não o deseja. Deves abandonar essas ideias século dezanove a respeito das leis da Natureza. Nós fazemos as leis da natureza!

- Não fazeis! Não sois donos do planeta. E a Eurásia e a Lestásia? Ainda não as vencestes.

- Não importa. Haveremos de dominá-las quando nos convir. E se não, que diferença faz? Podemos bani-las da existência. A Oceania é o mundo.

- Mas se o mundo não passa dum grão de pó! E o homem é minúsculo - inerme! Há quanto tempo existe? Durante milhões de anos a terra foi desabitada.

- Tolice. A terra é tão velha quanto o homem, e nada mais. Como poderia ser mais velha? Nada existe exceto pela via da consciência humana.

- Mas as rochas estão cheias de ossos de animais extintos - mamutes, mastodontes, e répteis enormes que viveram aqui muito antes do homem aparecer.

- Já viste esses ossos, Winston? Naturalmente não.





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