Como sempre, produziu-lhe um arrepio e até lhe deu engulhos. A bebida era horrível. Os cravos e a sacarina, em si já bastante repugnantes, não conseguiam disfarçar o cheiro oleoso do álcool; e o pior de tudo era que o bafio de gin, que não o abandonava dia e noite, misturava-se indissoluvelmente, no seu espírito, com o cheiro dos...
Nunca lhes dizia o nome, nem mesmo em pensamento, e tanto quanto possível, nunca os visualizava. Eram algo de que ele só em parte se dava conta, mexendo-se perto do seu rosto, com aquele fedor que se prendia às narinas. Um arroto de gin lhe entreabriu os lábios escuros. Engordara mais depois de ser posto em liberdade, e recobrara sua cor antiga -na verdade, tinha mais cor que antes. As suas feições haviam engrossado, a pele do nariz e das faces tornara-se áspera e vermelha, e até a calva tinha um tom rosa escuro. Um empregado, sem que ninguém o chamasse, trouxe um tabuleiro de xadrez e um exemplar do dia do Times, na página do problema de xadrez. Daí, vendo vazio o copo de Winston, trouxe a garrafa de gin e encheu-o. Não havia necessidade de pedir nada. Conheciam os seus hábitos. O tabuleiro de xadrez estava sempre à sua espera, a sua mesa de canto sempre reservada; mesmo quando o café estava cheio ali se sentava sozinho, pois ninguém gostava de ser visto em sua companhia. Nem mesmo se preocupava de contar quanto bebia. A intervalos irregulares apresentavam-lhe um pedacinho de papel sujo, que passava por conta, mas tinha a impressão que sempre lhe cobravam de menos. Não faria a mínima diferença se fosse o contrário. Agora sempre tinha bastante dinheiro. Tinha até um emprego, uma sinecura, mais bem paga do que fora o seu trabalho anterior.