E o Departamento de Registro, afinal de contas, não passava de uma pequena parte do Ministério da Verdade, cuja missão básica era não reconstruir o passado mas fornecer aos cidadãos da Oceania jornais, filmes, livros escolares, programas de teletela, peças, romances - com todas as informações concebíveis, instruções ou entretenimento, desde uma estátua até uma palavra de ordem, desde um poema lírico até um tratado de biologia, desde um bê-á-bá até um dicionário de Novilíngua. E o Ministério tinha que satisfazer não apenas as complexas necessidades do Partido, como repetir a mesma operação, em nível inferior, para o proletariado. Havia toda uma série de departamentos autônomos que tratavam de literatura, música, teatro e divertimentos proletários em geral. Neles eram produzidos jornalecos ordinários que continham pouca coisa mais que notícias de desporto, polícia e astrologia, sensacionais noveletas de cinco centavos, filmes transbordando de sexo, e cançonetas sentimentais compostas inteiramente por meios mecânicos numa espécie de caleidoscópio especial denominado versificador. Havia até uma sub-secção inteira - a Pornosec, como a chamavam em Novilíngua - dedicada à produção da pornografia mais reles, embalada em envelopes fechados, e que nenhum membro do Partido, além dos que nela trabalhavam, tinha licença de ver.
Enquanto Winston trabalhava, três bilhetes haviam caído do tubo pneumático; mas eram coisas simples, e ele os liquidou antes dos Dois Minutos de ódio o interromperem. Depois de terminado o ódio, voltou ao cubículo, apanhou o dicionário de Novilíngua da prateleira, empurrou o falascreve para o lado, limpou os óculos, e dedicou-se à tarefa principal da manhã.