Além disso, estava positivamente faminto. Transferiu os pensamentos para a sua mesa do canto favorita no Modigliani e para o obscuro bar, com cadeiras duras, cerveja rançosa e escarradeiras de latão. Entretanto, Hermione recriminava-o' em tom sonolento.
- Por que levas uma vida tão medonha, Philip?
- Não levo uma vida medonha.
- Levas, sim. Finges-te pobre, quando não o és, moras num apartamento acanhado sem pessoal doméstico permanente e convives com essa gente horrorosa.
- Qual gente horrorosa?
- Como esse teu amigo poeta, por exemplo. As pessoas que escrevem para o teu jornal. Fazem-no apenas para te cravar. Sei que és socialista. Eu também. Quero dizer que todos somos socialistas, nos tempos que correm. Mas não compreendo por que tens de esbanjar o teu dinheiro e confraternizar com as classes inferiores. Não podes ser socialista e divertir-te.
- Não lhes chames classes inferiores, por favor, querida.
- Porquê. Eles são as classes inferiores, não é verdade?
- Acho a expressão odiosa. Chama-lhes antes classe proletária.
- Seja, classe proletária, se preferes. Mas isso não impede que continuem a cheirar mal.
- Não deves falar assim - protestou ele, debilmente.
- Às vezes, penso que gostas das classes inferiores.
- É claro que gosto delas.
- Chocante. Simplesmente chocante.
Ela calou-se, disposta a não continuar a argumentar, os braços em torno dele, como uma sereia ensonada.
O odor feminino brotava-lhe de todo o ser numa poderosa propaganda silenciosa contra o altruísmo e justiça. Pagaram o táxi à entrada do Modigliani e encaminhavam-se para' a entrada, quando um homem alto, magro e trajado modestamente pareceu irromper do pavimento diante deles. Erguia-se no seu caminho como um animal adulador, com intensa ansiedade, embora timorato, como se receasse que Ravelston o agredisse. O rosto aproximou-se do deste - um semblante horrível. branco-peixe e barba hirsuta até aos olhos. As palavras «Para uma chávena de chá, patrão!» foram proferidas através de dentes cariados.