E a esposa a inteirar-se e quebrar a garrafa de vidro lapidado de uísque na nossa cabeça.
Não obstante, reconhecia que, de certo modo, era necessário casar. Se o casamento é mau, a alternativa ainda é pior. Por um momento, desejou ser casado, e anelou pelas dificuldades envolvidas, a realidade, a dor. E o matrimónio tem de ser indissolúvel, para o melhor e para o pior, para a riqueza e para a pobreza, até que a morte intervenha. O velho ideal cristão - casamento temperado pelo adultério. Comete adultério, se não o puderes evitar, mas ao menos tem a decência de lhe chamar adultério. Nada das tretas da alma gémea americanas. Diverte-te e volta para casa, com suco do fruto proibido a gotejar do bigode, e enfrenta as consequências. Garrafas de vidro lapidado de uísque quebradas na cabeça, ralhações, comida esturrada, crianças a chorar, raios e coriscos de sogras em pé de guerra.
Será isto preferível à horrível liberdade? Sabe-se, ao menos, que é a vida real que se vive.
Mas, de qualquer modo, como é possível casar com duas libras por semana. Dinheiro, dinheiro, sempre o dinheiro! O pior é que, à parte o casamento, não se torna possível uma relação decente com uma mulher. A mente de Gordon rememorou os seus dez anos de vida adulta. Os rostos de mulheres desfilaram-lhe na memória. Houvera dez ou uma dúzia. E prostitutas, também. Comme au long d'un cedevre un cadavre étendu. E mesmo quando não eram prostitutas, tinham sido sórdidas, sempre sórdidas. Principiara sempre por uma espécie de obstinação a sangue-frio e terminara com uma deserção maldosa, indiferente. Isso também envolvia o dinheiro. Sem ele, um homem não pode ser leal nas suas relações com as mulheres, pois não tem possibilidades de escolher, vendo-se constrangido a aceitar as que consegue obter, e depois precisa necessariamente de se libertar delas. A constância, como todas as outras virtudes, tem de ser paga em dinheiro.